Os transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e obesidade,
são assuntos muito abordados nos tempos de hoje, seja na psicoterapia,
nos consultórios de nutricionistas, endocrinologistas, na mídia, e nas
redes sociais.
Muitos estudos e debates, apontam para os fatores socioculturais
como principais desencadeadores desses transtornos, colocando a “busca
pelo corpo perfeito”, criada e estimulada pela mídia e pelos padrões
de beleza da sociedade, como a influência para a incidência dessa
doença, principalmente entre mulheres jovens.
Não se pode negar a interferência da pressão estética sobre o
estilo de vida atual, porém é possível olhar além do corpo, levando a
questão dos transtornos para um campo psíquico, psicanalítico e até
familiar. Dentro desse contexto, a Constelação Sistêmica pode
intervir, trazendo um olhar fenomenológico e ancestral para essas
questões, aprofundando a busca pela raiz dos problemas, ampliando as
possibilidades de melhora das doenças, além de oferecer uma nova
abordagem para o tema.
Alguns estudos, apontam que na Idade Média, existiam casos
semelhantes ao que hoje conhecemos como Anorexia. Naquele período, em
que a Igreja norteava todos os aspectos, incluindo os socioculturais,
as mulheres costumavam jejuar para se aproximar do sagrado. Essa
prática era então uma forma de ritual anoréxico.
Atualmente, psicanalistas trazem novas visões sobre os
transtornos, apontando para a existência de um nó relacional na tríade
pai-mãe-filho como um causa muito mais profunda para o surgimento dos
distúrbios alimentares. De acordo com especialistas da área, as
funções materna e paterna deverão cumprir o seu papel e gerar um
equilíbrio, até mesmo em relações homossexuais.
A função paterna, por exemplo, é a responsável por impor limites,
“castrar”, enquanto a função materna fica encarregada do conforto e
acolhimento. Com as mudanças sociais, como o aumento da carga de
trabalho, o distanciamento na criação dos filhos e a ausência de um
dos pais, a função paterna, por exemplo, muitas vezes é deixada de
lado, reforçando-se então a função materna, através de mimos e carinho
excessivo, faltando por sua vez, a imposição de limites. Outro caso de
excesso de função materna ocorre em famílias, nas quais os filhos
demoram tempo demais para sair de casa, ganhando conforto do ninho e
deixando de lado sua independência.
A Constelação Familiar, por sua vez, traz uma visão sistêmica,
hierárquica e inconsciente dos distúrbios alimentares, trazendo
emoções retidas, casos de “amor infantil”, desequilíbrio e expiação de
ancestrais como causas para esses transtornos.
Em casos de compulsão alimentar, clientes podem se vincular
inconscientemente com ancestrais que faleceram por doenças similares,
passaram necessidades, vieram de navios, foram refugiados de guerra, e
diversas histórias que envolvem fome e exclusão de parentes do sistema
familiar.
Casos de anorexia podem apresentar uma dinâmica inconsciente de
desejo de morte por algum familiar, sentida ou expiada pelo cliente,
por exemplo, enquanto os de bulimia, podem representar um
“impedimento” na aceitação de amor e pertencimento de algum familiar,
que acaba sendo simbolizado na rejeição do alimento.
A obesidade, por sua vez, pode surgir associada à uma programação
genética milenar, que conecta o armazenamento e acúmulo de gordura
corporal à um organismo livre de perigos. Dessa forma, o excesso de
peso representaria um desejo inconsciente de ser maior e mais forte,
para suprir seus sentimentos infantis como abandono e solidão. A
doença também pode funcionar como forma de preencher vazios
emocionais, ou como consequência de emoções retidas, traumas de
infância e situações desencadeantes como perda de um filho, abusos e
acidentes graves.
Os transtornos alimentares, portanto, podem ser examinados e
estudados de uma forma mais profunda, levando em conta o histórico
familiar, uma avaliação ancestral e uma análise psíquica individual,
enxergando-se assim, a doença como algo muito além de uma questão
sociocultural.
A Constelação Sistêmica, pode trazer abordagens engrandecedoras e
esclarecedoras para diversos casos, mas é importante salientar que se
trata de um método terapêutico fenomenológico, sendo assim, impossível
criar padrões e respostas confirmadas para os transtornos de forma
generalizada. Cada pessoa é uma pessoa, e cada história é uma
história.
Lembrando também, que a Constelação Familiar é um método terapêutico,
que não substitui os cuidados médicos, psicológicos e psiquiátricos de
um transtorno alimentar. As sessões devem servir como um complemento
dos outros tratamentos, assim como uma forma de expandir a visão sobre
a doença, para busca de melhoras, autoconhecimento e até mesmo debates
e estudos sociais sobre o assunto.