odo mundo já ouviu a expressão estereotipada: “Gosto de tudo
arrumadinho, porque eu tenho TOC”. De forma preconceituosa, o
transtorno acabou sendo inserido no diálogo popular, expressando o
gosto por arrumação e organização que algumas pessoas podem ter em sua
personalidade. Mas o TOC é um transtorno mental muito grave, comum,
crônico e duradouro, que diminui a qualidade de vida, interfere no
trabalho, estudo, lazer e incapacita a socialização e os
relacionamentos pessoais de cerca de 4 milhões de brasileiros..
O Transtorno funciona basicamente pela criação de compulsões e
obsessões na mente e na rotina de quem sofre dessa doença. Por
compulsões podemos entender comportamentos repetitivos ou atos mentais
que são criados e devem ser aplicados rigidamente, como rituais de
limpeza excessiva e lavagem das mãos, organização e ordenação de
objetos de forma específica, verificação de portas e fornos, contagem
compulsiva e evitação de situações. Obsessões por sua vez, são
pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que acabam
sendo intrusivos e indesejados pelo indivíduo, como medos de
contaminação, desconfortos, culpa, aflição, pensamentos sobre
simetria, religião, sexo, agressividade sobre os outros e si mesmo.
As pessoas com TOC podem apresentar sintomas de compulsão,
obsessão, ou até mesmo dos dois tipos. Além dos sintomas da doença,
outros problemas surgem ao longo da vida dos indivíduos, como:
comportamento de evitação dos pensamentos e situações, o que acaba limitando sua vida; uso de drogas e álcool para acalmar as crises obsessivas;
desenvolvimento de distúrbios de tic, como tiques motores (movimentos súbitos, breves e repetitivos, por exemplo, piscar de olhos, encolher os ombros, etc) e tiques vocais (sons, como limpar a garganta, cheirar ou grunhir).
A doença pode afetar adultos, adolescentes e crianças, sendo a
maioria das pessoas diagnosticada na juventude. Muitos adultos e
crianças não percebem que desenvolveram a doença, pois não entendem
que seu comportamento está fora do comum. No caso da infância, pais e
professores são normalmente os responsáveis por reconhecer os sintomas
e tomar as devidas providências. As causas do transtorno são
desconhecidas, mas os fatores de risco são: genética (pessoas com
parentes de primeiro grau com o transtorno estão em maior risco de
desenvolver); estrutura do cérebro (fator ainda em análise, que estuda
a conexão entre a doença e anormalidades em áreas específicas do
cérebro); meio ambiente (abusos e traumas na infância); e infecção
estreptocócica (casos mais raros).
Os tratamentos para o TOC normalmente incluem medicação,
psicoterapia, ou a combinação dos dois métodos, porém, algumas vezes,
o indivíduo também possui outras questões mentais, como ansiedade e
depressão, que devem ser levados em conta na hora de escolher o
tratamento psiquiátrico. Normalmente, a abordagem conhecida como TCC
(terapia cognitiva comportamental) traz resultados excelentes para
pacientes com TOC, pois esse tipo de tratamento psicoterápico é muito
objetivo, trabalhando com exercícios diários e desconstrução de
pensamentos, com o objetivo de ressignificar o papel dos hábitos na
vida do indivíduo.
A Constelação Sistêmica trabalha investigando emaranhamentos
familiares, que podem ser enxergados em doenças, situações e
dificuldades específicas daqueles que buscam a terapia. Nos casos de
TOC, a Constelação pode ser usada como uma terapia complementar à
medicamentosa e psicoterápica, auxiliando na busca da causa da doença.
Primeiramente, é preciso lembrar que um dos fatores de risco da
doença é a genética. Familiares com alguma obsessão, podem acabar
influenciando no desenvolvimento de alguma neurose. Sem mesmo
perceber, crianças e jovens podem repetir obsessões ou acabar criando
seus próprios padrões de comportamento, diante da ideia de que isso é
comum em sua rotina e seus genes.
Por se tratar de uma obsessão, muitas vezes de organização, ordem e
sistematização, o transtorno compulsivo pode refletir o oposto dessas
características, presente no interior do indivíduo. Crianças, jovens e
adultos confusos, com dificuldades de lidar com questões emocionais
familiares e individuais, podem buscar no TOC, de forma inconsciente,
uma forma de trazer regularidade para seus sentimentos e sua vida
interna. Em casos de limpeza, indivíduos que têm pensamentos e atos
“sujos” - de acordo com a avaliação sociocultural - podem muitas
vezes, refletir essa necessidade de se limpar internamente, através da
obsessão compulsiva externa.
Outro ponto interessante é o fato de que na nossa sociedade, a
limpeza representa algo certo, uma qualidade, enquanto a sujeira é
algo errado, um defeito. A busca de uma limpeza, torna-se então algo
aceitável, muitas vezes não sendo enxergada como um excesso. Desta
forma, pessoas inseguras e ansiosas por agradar, podem refletir um
desejo de ser querida e ser aceita.
Resumindo, é importante analisar cada caso de Transtorno Obsessivo
Compulsivo de forma individual, de acordo com o estilo de vida e as
características de cada pessoa. Um homem solteiro, por exemplo, pode
não sofrer tanto com o TOC de limpeza e suas consequências, como uma
mãe com três filhos. A Constelação poderá através do sistema e da
avaliação da história de cada pessoa, entender em que ponto há uma
possível desconexão na linhagem familiar, ou uma forma inconsciente de
lidar com crenças negativas, trabalhando assim para que ela possa ser
ressignificada, e em conjunto com os outros tratamentos, ajudar o
indivíduo a ter uma melhora e aumento na qualidade de vida. Em outros
casos em que ainda não há queixa do transtorno, a Constelação pode
também trabalhar de uma forma preventiva, esclarecendo questões
familiares que poderiam tendenciar o indivíduo a desenvolver o TOC.