Reflexões da quarentena, onde estava o cuidado, e como estamos nos cuidando?
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Reflexões da quarentena, onde estava o cuidado, e como estamos nos cuidando?


Estamos em época de viver “para dentro”, de casa, dos detalhes, das curvas e rugas nossas e do bem próximo… para dentro de nós. Pode ser difícil no começo, depende dos monstros que carrega, mas é dentro que existe toda a essência, força, energia, vida, ação. É tempo de enfrentamento, de cuidar do não visto, de tocar o existente não visível que pode estar esquecido, o Cuidado. Cuidar é ter cuidado, é tomar uma ação para preservar, é dar atenção, reparar o que não está bom, é olhar para o que é sentido e abraçá-lo. No dicionário, cuidado: “meditar com ponderação; cogitar, pensar, ponderar, reparar, atentar para, prestar atenção em”. Desde que iniciou a quarentena, pude cuidar melhor delas, as plantas, que todos os dias, assim como nós, lutam para manter-se vivas, mas que dependem do nosso Cuidado. Ficar em casa vem sendo um ato de cuidado, comigo, o outro, o próximo, os profissionais da saúde, a sociedade, e principalmente com quem está dentro de casa. Exemplifico as plantas, essas da foto, reparo que o cuidado com elas passou a ser 3x por dia e não mais 1… e qual o resultado? Elas nunca foram tão frutíferas, cheias de sulco em suas frutas, verdes e vivas… O que mudou? O Cuidado dedicado, diário, com atenção, retirada das folhas mortas, o alimento água algumas vezes no dia, um olhar atento às necessidades delas, uma ação de Cuidar. Cuidar de si, da saúde, resulta em bem-estar, que se replica ao próximo. Escutar-se com atenção e carinho é cuidado, é cuidar das folhas velhas e mortas, retirar, limpar, molhar mais vezes, tocar a terra, trocar, limpar, conversar, enfim realizar a manutenção cuidadosa. As plantas vem simbolizando a importância daqueles detalhes que na correria do dia-a-dia acabam passando despercebidos, porém, são os detalhes que fazem toda a diferença, não são menos por serem “detalhes”, são maiores por justamente fazerem a diferença. Cuidar com carinho não é um mero detalhe, é o detalhe que faz a diferença, é o que faz diferente as relações importantes das demais relações. Canta Roberto Carlos “detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes pra esquecer…” O cuidado é adubo das relações. Os filmes “Beleza Oculta” e “O jardim secreto” trazem alguns elementos em comum, que assim como as plantas, inspiraram essa reflexão: Tempo, Amor e Morte. A vida tem no mínimo esses três elementos, que coexistem a todo instante conosco: O tempo é necessário para lidar com o amor e a morte, é no espaço de tempo que aplicamos energia para investir no amor e superar a morte, para cuidar do velho e plantar novas sementes, para Cuidar, viver. A morte, ciclo natural que ocorre a todo instante, em sentimentos, plantas, frutos, folhas, relações, pessoas, significados… é inevitável, dói, mas o onde cria-se espaço para o novo. O Amor… este que nem os poetas conseguem entrar em consenso do que é, mas que todos sentem… ele pode mover a fazer, a viver, a sorrir, a lutar, superar sofrimentos intensos, pode trazer paz e sentimento de felicidade, talvez porque nos faça sentir que não estamos sozinhos e passamos a desejar Cuidar para que ele seja preservado, e o prazer de cuidar e ser cuidado nos mantém vivos. Ambos filmes também dizem claramente: "olhe na direção certa e tudo mudará para sempre…" e refletindo penso agora: Olhar na direção daquilo que é importante para cada um, pode fazer seu coração sorrir, trazer sentido à vida, e sua percepção do mundo, mudará… e mais uma vez, observar os pequenos detalhes como as folhas amareladas que precisam ser retiradas, a falta de água, a ausência de carinho, a conversa, o toque, são elementos de uma relação que se não houver cuidado constante, diário… as folhas velhas consomem energia, alimento, e impedem o desenvolvimento do novo e belo, é o cuidado com os detalhes que faz a diferença. Quando saírmos dessa quarentena, levemos conosco este e outros aprendizados de cada um, que sempre deve haver um tempo para cuidar de si, das relações, dos próximos, do todo, e dos detalhes, e que não é o tempo que queremos aplicar que faz a diferença, é o tempo necessário verdadeiro de cada atividade exige que faz esta ter significado. Um dia saiu na brincadeira com amigos: vivo porque estou vivo…. Sim, viver cada instante só é possível para quem está vivo, de corpo, alma e coração, e cuidar é parte do viver da vida. Cuidemo-nos, para que seja sempre possível continuar vivos, e vivendo, com cuidado, atenção, e carinho.

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